Ecossistemas Brasileiros |
Enquanto Seca assola o Nordeste, 51 % da sua água é desperdiçada No Nordeste brasileiro “desce pelo ralo” quase 51 % da água tratada . A média de perda na Europa é de 15% e no Japão, 3%. A rede de distribuição é considerada antiga e precisa passar por manutenção. Os vazamentos são o maior problema . Estudo do Instituto Trata Brasil mostra que uma redução de apenas 10% das perdas do país representaria uma receita de R$ 1,3 bilhão, quase a metade do investimento feito em abastecimento de água no ano de 2010. Reduzir perdas é importante também para não faltar água. O estudo mostra que um terço das cem maiores cidades do país precisa de um novo manancial para atender a população. Região Água (%) população atendida) Coleta de Esgotos (%) população atendida (%) Tratamento de esgotos (%) Perdas distribuição
TOTAL URBANA TOTAL URBANA TOTAL TOTAL N 57,5 71,8 8,1 10,0 22,4 51,2
NE 68,1 88,7 19,6 26,1 32,0 50,8
CO 86,2 95,3 46,0 50,5 43,1 33,8 S 84,9 96,0 34,3 39,9 33,4 35,4
SE 91,3 96,6 71,8 76,9 40,8 34,4
BRASIL 81,1 92,5 46,2 53,5 37,9 38,8
Enquanto isso….. 1. O consumo de água por habitante no Brasil apresentou crescimento de 7,1% em 2010, com relação a 2009, com média de 159 litros por habitante por dia . A região com menor consumo é a Nordeste, com 117 litros por habitante por dia; já a região com maior consumo é a região Sudeste, com 186 litros por habitante por dia; 2. Deveriam ser investidos 0,63% do PIB, mas efetivamente são investidos apenas 0,22%; 3. Estudo do Trata Brasil “De Olho no PAC”, que acompanha a execução de 114 grandes obras de saneamento em municípios acima de 500 mil habitantes, mostra que apenas 7% de obras foram concluídas até Dezembro de 2011. 60% destas obras estão paralisadas, atrasadas ou ainda não iniciadas; 4. Se os investimentos em saneamento no Brasil continuarem no mesmo ritmo, apenas no ano de 2.122 todos os brasileiros teriam acesso a esse serviço básico. Fonte : Instituto Trata Brasil, com dados do SNIS – Ministério das Cidades
DESTAQUE | 09.04.13 | 21
Pior seca no nordeste brasileiro confirma estatísticas da ONU sobre escassez O nordeste brasileiro enfrenta em 2013 a maior seca dos últimos 50 anos, com mais de 1.400 municípios afetados. A informação foi anunciada nesta segunda-feira (8) pelo Governo brasileiro. A seca deste ano já é pior do que a do ano passado, também recorde. Essa realidade, no entanto, não é isolada. A previsão das Nações Unidas é de que até 2030 quase metade da população mundial estará vivendo em áreas com grande escassez de água. “Já identificamos a tendência de que as temperaturas se elevam no mundo acima do normal. Em novembro de 2012 tivemos o mês de número trezentos e trinta e três em que as temperaturas subiram, seguidamente, acima do normal no século”, diz a Chefe da Equipe de Apoio da ONU sobre Mudança Climática, Marcela Main. Ela acrescenta que se trata de um problema que ocorre em todos os lugares, sejam países pobres ou ricos. Nos Estados Unidos, 2012 foi considerado o ano mais quente já registrado, enquanto na região do Sahel, na África, repetidas secas causam a escassez de alimentos. “É uma questão para a comida, para a água, para a segurança, para a energia, para tudo”, diz a pesquisadora. As secas têm afetado principalmente as regiões do Chifre de África e do Sahel, EUA, México, Brasil, partes da China e da Índia, Rússia e o sudeste da Europa. Além disso, 168 países afirmam ser afetados pela desertificação, um processo de degradação do solo em terras secas que afeta a produção de alimentos e é agravado pela seca. Desde 1950, terras secas aumentaram quase 2% em todo o mundo por década, segundo dados de um declaração conjunta, feita em março deste ano, pelos chefes da Organização Meteorológica Mundial (OMM), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).
REVISTA RADIS REPORTAGENSREPORTAGENS“O problema do semiárido não é a seca, é a cerca”
Os termos semiárido, sertão e caatinga estão de tal modo interligados que acabam gerando interseções conceituais. No site do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), a região do semiárido é descrita como “cenário geográfico onde ocorrem as secas”, e abrange Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, além do Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, e parte da região norte do Espírito Santo.
Também chamada “não tecnicamente” de sertão, a área tem regime de chuvas irregular (entre 400 e 800 milímetros anuais), seus solos são rasos e a vegetação é xerófila, resistente aos períodos de estiagem. A partir das condições de solo e água, a região é classificada em zonas: caatinga, seridó, carrasco e agreste, informa o INSA.
O etnoecólogo baiano Juracy Marques, coordenador do mestrado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), explica de outra maneira: ele inclui na “zona semiárida brasileira” o estado do Maranhão, descarta o norte capixaba e a considera cenário do bioma caatinga, área que ocupa 70% do território nordestino (13% do país) e abriga 63% da sua população (18% da população nacional) — cerca de 28 milhões de pessoas.
Autor de diversos livros sobre a temática, Juracy esclarece que os termos são indissociáveis, frequentemente usados como sinônimos do mesmo espaço geográfico. Mesmo assim, explica que a palavra sertão, com origem no verbo latino ser/sero, que quer dizer ligar com fio, tecer, juntar, atar,engajar, encadear, definiria a área não cultivada, mais seca, com poucos recursos, afastada das cidades; semiárido seria o clima que predomina no sertão.
No site do INSA há a informação de que a caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, que tem este nome graças a sua aparência durante a seca, quando as folhas caem e os troncos aparecem esbranquiçados. O termo, de origem tupi, significa mata branca, uma combinação dos elementos ca’a(floresta), tî (branco) e o sufixo ngá (que lembra).
Vítima do desenvolvimento
A Articulação no Semiárido reconhece a importância da caatinga, onde são encontrados cerca de 900 tipos de animais e uma quantidade muito variada de plantas e árvores. “Apesar da aparência seca, é um terreno fértil, com árvores resistentes, que armazenam água para a própria sobrevivência, como o umbu, o mandacaru e várias outras”, diz Naidison Baptista, coordenador nacional da ASA. “Uma das coisas que a gente preza muito é a preservação da caatinga”, destaca, lembrando que o bioma vem sendo devastado por grandes projetos. “Nos últimos três anos, mais de 16 mil quilômetros quadrados do semiárido foram devastados pela agropecuária extensiva e pela produção de carvão para siderúrgicas”, denuncia.
Naidison considera que o semiárido “é uma vítima secular desse processo de desenvolvimento”, que tem de um lado os grandes latifúndios e, de outro, parcelas minúsculas de terras para agricultores. Estudos científicos demonstram que o ideal é que cada criador de animais da região tivesse à disposição 200 hectares de terra. Hoje, as propriedades chegam a 4 hectares, quando muito.
“É um processo predatório, de extrema concentração de terra e de extrema concentração de miséria”, diz Naidison. Uma estratégia útil de manutenção do coronelismo, do poder político das mesmas famílias, dos mesmos grupos hegemônicos e econômicos, “que se servem da pobreza, da miséria das pessoas para enriquecer”.
Um modelo de desenvolvimento que se apoia no carro-pipa, nas frentes de trabalho. Desempregados no período das secas, os agricultores são recrutados para escavar açudes nas propriedades dos fazendeiros, que depois são cercados, impedindo as pessoas até de beber a água. “O problema do semiárido não é a seca; é a cerca, que cerca a terra e a água”.
Exportação e exploração
Outros problemas detectados por ele são projetos de criação de animais não nativos da caatinga, inadequados à região, e os grandes processos de irrigação que acompanham a instalação das indústrias de produção para a exportação (de vinho, melão ou manga), que além de trazer consigo agrotóxicos e transgênicos, faz com que as pessoas deixem sua terra e se transformem em operários nas indústrias. O coordenador da ASA aponta que este é um novo processo de exploração “despistada”.
Ele aposta no fim deste processo: “Nós temos inúmeros casos das pessoas se manifestando com liberdade”. Ele narra a história de um agricultor, de Feira de Santana (BA), que se considerava “acorrentado”. Para garantir água para a mulher e os filhos, tinha que votar em determinadas pessoas. “Hoje eu posso votar em quem eu quiser”, teria dito depois de garantir sua cisterna.
Outro exemplo simbólico dessa autonomia seria a mudança na rotina das mulheres. Muitas delas caminhavam diariamente até 20 quilômetros, carregando 20 litros de água. Hoje, podem estudar, produzir. “São transformações profundas, a partir de um elemento simples, que custa hoje R$ 1.800,00”, assegura Naidison.
Indústria da seca
Todo este contexto garantiu a associação, quase imediata, da região Nordeste às imagens da seca, da pobreza e da fome. Com exceção da faixa litorânea, onde se situa a maioria das capitais e os balneários e resorts que recebem turistas de todo o mundo, o interior ainda é, para a maioria das pessoas, sinônimo dos versos escritos por Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979) para Asa Branca(1947): “Que braseiro, que fornaia; nem um pé de prantação. Por farta d’água, perdi meu gado, morreu de sede meu alazão”.
Não foi somente o Rei do Baião que registrou a direta associação do sertão com precárias condições de vida e êxodo rural. Também a literatura praticada na região no século 20 reforçou o estereótipo do retirante, fugindo do solo árido e estéril para o Sudeste, em busca de trabalho. São obras que se tornaram clássicos nacionais, como Vidas Secas (1938), do alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), eO Quinze (1930), da cearense Raquel de Queiroz (1910-2003).
Segundo a pesquisadora Lúcia Gaspar, em artigo publicado no site da Fundação Joaquim Nabuco, as secas são conhecidas no Brasil desde o século 16. Ela aponta que o fenômeno ecológico também é político, na medida em que reflete “a manutenção de uma estrutura social profundamente concentradora e injusta”, onde o controle da propriedade da terra e do processo político está nas mãos das oligarquias locais. A questão não se resume à falta de água, mas a sua má distribuição.
A prática, conhecida como indústria da seca, permite que grandes latifundiários nordestinos beneficiem-se de investimentos realizados e dos créditos bancários concedidos à região, enquanto os trabalhadores ficam vulneráveis. “A tragédia da seca encobre interesses escusos daqueles que têm influência política ou são economicamente poderosos, que procuram eternizar o problema e impedir que ações eficazes sejam adotadas”, sustenta.
Em 1951, a Lei 1.348 delimitou o Polígono das Secas, área de 950 mil quilômetros quadrados (52,7% do Nordeste), que vai desde o Piauí até o norte de Minas Gerais, onde o clima é semiárido e a vegetação é caatinga. As ações governamentais, no entanto, começaram no início do século 20, com a criação de uma inspetoria de obras — que mais tarde se transformaria no Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS).
A estratégia adotada foi a construção de estradas, barragens, açudes e poços, de maneira a dar apoio para que a agricultura suportasse os períodos de seca. Em 1945, o governo fundou a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e, em 1948, a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), hoje denominada Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Em 1952, nascia o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e, em 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Os organismos tinham como objetivos estimular o desenvolvimento da economia nordestina e diminuir a disparidade em relação ao Centro-Sul do país.
O que se viu mais comumente, no entanto, foram as ações emergenciais, como distribuição de cestas básicas e a instituição de frentes de trabalho, criadas para ocupar os desempregados durante o período das secas, dirigidas para a construção de estradas, açudes, pontes. “O Nordeste é viável”, sustenta Lúcia. Seus maiores problemas, diz, são provenientes mais da ação ou omissão dos homens e da concepção da sociedade que foi implantada, do que propriamente das secas de que é vítima.
Sua análise se aproxima da ideia imortalizada por Euclides da Cunha (1866-1909), no clássico Os sertões (1902), que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Para o escritor fluminense, que cobriu a Revolta de Canudos (1896-1897) para O Estado de São Paulo, é “um titã acobreado e potente”, que pode se tornar retirante por conta da seca, mas que retorna sempre ao sertão.
Autor:
(A.D.L.) |
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