UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DE CANÇÃO EXCÊNTRICA
Análise do poema "Canção Excêntrica", de "Cecília Meireles."
A teoria da iconicidade, associada à estilística, permite-nos investigar os recursos impressivos e expressivos manifestos na representação sígnica de nossos pensamentos, sentimentos, idéias, etc. Tal associação parece-nos facilitar a compreensão de textos em geral.
O conhecimento das estruturas linguísticas, leva você a compreender a importância da Gramática na compreensão de textos.
O signo pode ser definido como o representante do objeto para um intérprete, produzindo na mente desse intérprete um outro signo que traduz o significado do primeiro. Esse processo relacional que se cria na mente do intérprete é denominado interpretante. O significado de um signo é outro signo:
? pode ser uma imagem mental,
?uma ação,
? um sentimento.
Só se conseguirá interpretar o mundo que o cerca porque faz sua representação e interpreta essa representação a partir de outra representação.
As relações entre o signo e o objeto apreendido, é composta de três constituintes: ícone, índice e símbolo.
O ícone é o elemento que estabelece a similaridade entre o signo e o objeto apreendido.
São exemplos de ícones os protótipos, a pintura, os diagramas, as fórmulas.
É através da estrutura icônica que o texto se transpõe para a consciência do leitor. Os ícones projetam estratégias para a possível compreensão do texto.
O índice é o tipo sígnico que estabelece relações de contiguidade entre o representante, o objeto, como os pronomes demonstrativos, que se relacionam aos substantivos. Constroem relações de encadeamento; um tipo de nexo estruturador.
O símbolo brota da relação arbitrária entre o signo e o objeto, dependendo, pois, das convenções criadas, como as palavras, as regras, as leis, os significados em geral.
Vejamos o texto de Cecília Meireles:
Canção Excêntrica
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
? saudosa do que não faço,
? do que faço, arrependida.
A seleção vocabular feita por Cecília Meireles para a elaboração do poema Canção Excêntrica, leva à produção de imagens na mente do leitor. As palavras que pertencem ao campo semântico do desenho geométrico sugerem o traçado, com instrumentos próprios, de uma figura. A “visualização” que fazemos com a leitura da poesia pertence à primeira categoria de captação do objeto.
No que diz respeito à categoria que trata das relações entre signo e objeto, temos nesse estágio da leitura o ícone, ou seja, as palavras que estimulam o traçado (na mente do leitor) da figura do objeto focalizado pelo texto. As metáforas são as responsáveis pela formação dessas imagens. Podemos depreender, por exemplo, a partir da construção desenho da vida, um modelo de existência idealizado pelo eu-lírico, estado oposto à situação de desencontro em que se encontra.
Ainda que (se)* reconheça a fragilidade dos esquemas de ancoragem da significação textual e da subjetividade imanente à produção mesma dos textos, tem sido possível construir estratégias diagramático-sintagmáticas de leitura a partir do levantamento do diálogo interno travado entre conectivos e circunstancializadores, por exemplo. (* inclusão nossa)
Os elementos que se seguem, que pertencem à isotopia do desenho, permitem-nos supor que o sujeito se empenha em buscar uma convivência afetiva satisfatória ou um equilíbrio emocional a partir de um projeto arquitetônico. São eles:
espaço
desenho da vida
medida
compasso
projeto-me
gero
se volto sobre o um passo
distância
traço
faço
Os verbos que ocorrem no poema reiteram a determinação do eu-lírico em alcançar seu objetivo: o desenho da vida.
A trajetória da busca é marcada por tentativas reveladoras de otimismo e resultados que mostram o insucesso dessas ações. Os verbos acompanhados dos sinais + (= otimismo) e – (= insucesso) ilustram o que dissemos.
Vejamos:
andar +
embaraçar ?
perder ?
pensar +
projetar-se +
gerar +
começar +
(não) animar-se ?
(não) fazer ?
fazer +
Esse levantamento mostra que, apesar de o sujeito admitir sua derrota diante da vida, as ações realizadas por ele que traduzem insucesso são quantitativamente inferiores às ações marcadas, de alguma forma, pela positividade. Logo, isso poderia nos levar a concluir que, embora não reconheça (? do que faço, arrependida) o eu-lírico não deixou de realizar algo.
As marcas de tempo dos verbos são de importância fundamental para a interpretação do texto. Notamos que todos os verbos do poema se apresentam no presente do indicativo.
Segundo a gramática, podemos citar a de Evanildo Bechara (1999), essa forma verbal refere-se a fatos reais que se passam na ocasião em que falamos. Baseados nisso, podemos dizer que o sujeito revela a sua realidade atual. Weinrich (Apud Koch:1996) acrescenta que esse tempo pertence ao mundo comentado, que se caracteriza por apresentar uma atitude tensa, num discurso dramático, pois os fatos narrados se tratam de acontecimentos que afetam o sujeito diretamente. O teórico prossegue afirmando que “comentar é falar comprometidamente” (Cf. Koch, 1996: 38); ele diz ainda que o presente constitui o tempo zero do mundo comentado, ou seja, sem perspectivas. Portanto, de acordo com as idéias de Weinrich, e está perfeitamente claro na poesia, Canção Excêntrica é mais um canto de lamento de uma realidade que não pode ser modificada; o sujeito apenas constata os fatos, não tendo perspectivas de mudança.
Embora algumas ações do sujeito revelem tentativas de ação otimistas, há elementos indiciais na poesia que conduzem o leitor para um desfecho negativo. O advérbio sempre, que aparece no verso 4: “e perco sempre a medida” se constitui em um índice de que a tarefa do eu-lírico não vai ter o resultado esperado.
O outro advérbio ? já ? que aparece no verso 15: “Já por exausta e descrida” é um índice de que o sujeito, vencido pelas adversidades, deu por finalizada sua busca.
É possível fazer a divisão da poesia em três partes:
• do verso 1 ao verso 4 – declaração da ação real positiva
• do verso 5 ao verso 10 – declaração de ação hipotética
• do verso 11 ao verso 18 – declaração da ação real com desfecho negativo
É oportuno, neste momento, distinguir as relações lógicas presentes no texto, tanto do ponto de vista lingüístico como do ponto de vista discursivo. Persuadir é convencer o outro, e, na estruturação do discurso usam-se relações lógicas, que podem aparecer de diferentes formas (explícita e implicitamente).
Tomando como ponto de partida o título da poesia, podemos dizer que este texto é eminentemente persuasivo. A autora, através de estratégias próprias do discurso argumentativo-persuasivo, procura justificar o porquê de a poesia intitular-se Canção Excêntrica.
A noção de causalidade, que não se limita somente aos instrumentos próprios, está clara no desenvolvimento do texto.
A conjunção e, mesmo sendo um conector coordenativo, traduz uma noção de causalidade implícita; conotando a idéia de conseqüência:
“Em números me embaraço / e perco sempre a medida” (v.3-4); “projeto-me num abraço / e gero uma despedida” (v.7-8).
A conjunção se, que introduz os versos 5 e 9, encerram declarações hipotéticas que confirmam o eterno desencontro do sujeito — “se penso encontrar saída/.../projeto-me num abraço e gero uma despedida; se volto sobre meu passo,/´já distância perdida).
As proposições não são verdadeiras, porém, a idéia conseqüente será verdadeira se a antecedente o for, as ações, se realizadas, certamente resultarão em decepção.
No nível da expressividade, o sujeito mostra sua ex-centricidade através do quiasmo que aparece no fechamento da poesia : “? saudosa do que não faço, / ? do que faço, arrependida.” ( v.17-18).
Observa-se que os dois versos formam uma antítese que rompe com a lógica discursiva: saudosa? do que não faço; arrependida ? do que faço.
Ainda no nível da expressividade, vemos que aparecem as rimas em –ida e –aço. É possível estabelecer-se uma oposição entre elas de acordo com o sentido do texto:
IDA
vida
medida
saída
despedida
perdida
descrida
arrependida
AÇO
embaraço
compasso
abraço
passo
cansaço
espaço
traço
O Dicionário Aurélio (1986), registra como acepção para a palavra ida os termos partida , jornada da ida; para o verbo ir, entre os vários termos, há os sentidos: deslocar-se, andar, percorrer, seguir.
O vocábulo aço, dentre outras acepções é definido como: aquilo que é duro, resistente, rígido. Associando esses sentidos ao texto estudado, poderíamos abstrair que o sujeito se empenha em uma ida para o desenho da vida, porém suas tentativas são frágeis diante da dureza, da rigidez dos obstáculos, tornando duro, resistente ao sentimento seu próprio coração:
“Meu coração, coisa de aço,” (v.11).
A vogal /a/ se associa a algo grande, enquanto que a vogal /i/ está ligada à noção de pequenez, estreitamento (cf. macro x micro).
A noção de grandeza pode ser associada também ao vocábulo ando que inicia o poema:
“Ando à procura de espaço”. Deduz-se daí que, inicialmente, o sujeito possuía força e determinação em seus propósitos, entretanto, diante das adversidades, esse estado de espírito apagou-se no coração do eu-lírico, que agora se mostra descrente, exausto e arrependido.
Inicialmente, o poema produz apenas um interpretante de primeiro nível, ligado ao plano sensorial, no caso de Canção Excêntrica, a sensação visual. A observação de todas as estratégias presentes no texto fará emergir o interpretante final, ou seja, o possível ou possíveis sentidos para o poema.
Obsevação:
Quiasmo
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão no início de uma frase (ou verso) e no fim da seguinte, ao mesmo tempo em que se repete a palavra ou expressão do término de uma frase (ou verso) no começo da seguinte.
Análise do poema "Canção Excêntrica", de "Cecília Meireles."
Análise do poema "Canção Excêntrica", de "Cecília Meireles."
Símile ou comparação
Consiste numa comparação explícita, com a presença do elemento comparativo: como, tal qual, igual a, feito, que nem (coloquial), etc., entre duas palavras ou expressões.
Ela é bela como uma flor.
Ele é esperto feito uma raposa.
Ele é magro que nem um caniço.
O menino manteve-se firme, tal qual uma rocha.
*
Metáfora
Consiste numa comparação implícita, numa relação de similaridade, entre duas palavras ou expressões.
Ela é uma flor.
Ele é uma raposa.
Somente a Ingratidão — essa pantera —
Foi tua companheira inseparável (Augusto dos Anjos)
*
Metonímia
Consiste numa comparação parcial implícita, numa relação de contigüidade ou aproximação, entre o significado de uma palavra ou expressão e uma parte do significado, ou um significado associado ao, de outra palavra ou expressão.
Pode compreender relações de parte-todo, características, localização, continente-conteúdo, causa-efeito, etc.
Beber um Porto.
Ser vítima do latifúndio.
Deixar de ser um João.
Sua beleza é um avião.
*
Sinédoque
É um tipo de metonímia centrado na idéia de inclusão, normalmente baseado na relação parte-todo.
Exemplos:
Conseguir um teto e um pouco de pão.
Lutar pela criança e pelo velho.
Tomar uma Brahma.
Comprar uma gilete.
*
Catacrese
Consiste no emprego de um termo figurado por falta de outro termo mais apropriado. É um tipo de metonímia ou metáfora que, de tão usada, já deixou de ser considerada como tal pelos falantes.
A perna da mesa
O dente de alho.
O pé de feijão.
Perífrase
Consiste na substituição de um termo por uma expressão que o descreva.
A capital do Brasil.
A cidade maravilhosa.
Quando a indesejada das gentes (= morte) vier.
*
Antonomásia
Um tipo especial de perífrase que consiste na substituição de um nome próprio por um nome comum, ou vice-versa, ou ainda pela denominação de alguém por meio de suas características principais ou por fatos marcantes de sua vida.
O Poeta dos Escravos.
A Redentora.
Ele é um D. Juan.
*
Antítese
Quando uma idéia se opõe a outra, sem impedi-la nem torná-la absurda. As idéias em si podem ser diametralmente opostas e até excludentes.
Estava mais morto do que vivo.
De repente, do riso fez-se o pranto.
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
*
Paradoxo
É a antítese extremada, em que duas idéias que se excluem são apresentadas como ocorrendo ao mesmo tempo e no mesmo contexto, o que gera uma situação impossível, uma idéia absurda.
Amor é ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
Quer abrir a porta
Não existe porta.
*
Litotes
Consiste na afirmação de alguma coisa pela negação do seu contrário.
Não é feia a pequerrucha. (= é bonita)
Ele não era nada bobo. (= era esperto)
Ela não era nenhuma miss Brasil. (= era feia)
*
Antífrase
Consiste em se afirmar exatamente o contrário do que se quer dizer; geralmente é um tipo de ironia.
Chegou cedo, heim! (para alguém atrasado)
Muito bonito, seu Fulano! (quando alguém acabou de cometer um erro ou disparate)
Coisinha linda! (para uma pessoa muito feia)
*
Ironia
Figura de linguagem na qual aquilo que se diz não corresponde exatamente ao que se quer dizer, com intuito jocoso, cômico ou crítico.
Oba, jiló de novo!
Como escritor, ele é um ótimo guitarrista!
— Posso tentar o pneumotórax, doutor?
— Não, só resta cantar um tango argentino!
*
Sarcasmo
É o nome que se dá à ironia usada com intuito ofensivo, agressivo ou malévolo.
Tá linda de vermelho, parecendo um caqui.
Nossa, como ela é inteligente. Sabe até ler!
Ele tem dentes lindos, todos três!
*
Alusão ou citação
Quando um autor se vale de trechos, imagens ou personagens de um outro autor para a confecção de sua obra.
E quando escutar um samba-canção
Assim como Eu preciso aprender a ser só
Reagir e ouvir o coração responder:
Eu preciso aprender a só ser
Elementar, meu caro aluno!
*
Clichê ou frase-feita
Consiste no uso de uma expressão popular de uso geral dentro da obra de um autor.
Quem tudo quer, tudo perde.
Pouco com Deus é muito.
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
*
Paródia
Consiste na modificação de trecho ou obra de um outro autor, ou ainda de um clichê, com intuito jocoso, cômico ou crítico.
Qual a diferença entre o charme e o “funk”?
Um é de analfabeto, outro de ignorante.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que a água desiste.
Ó pátria amada, em dólares atada,
Salve-se, salve-se.
*
Ambigüidade
Figura de linguagem em que um determinado trecho pode ser interpretado de duas ou mais maneiras diferentes, por efeito da anfibologia ou do uso de polissemias ou homônimos. A ambigüidade muitas vezes é um vício de linguagem, mas também pode ser um valioso recurso estilístico, na medida em que ela abre o texto para duas ou mais interpretações.
Márcio foi à casa de Pedro e beijou sua mulher.
A mãe da aniversariante deu bolo.
Sou a favor do Vale do Paraíba. Afinal, já temos o vale-transporte, o vale-idoso, por que não favorecer nossos irmãos do Nordeste? (resposta do Vestibular)
Eu sou, eu fui, eu vou! (Raul Seixas)
*
Reiteração
Quando se repete uma idéia, quer por meio de um sinônimo ou expressão sinônima, quer por meio de uma palavra cujo significado esteja de alguma forma associado ao significado da primeira palavra ou expressão.
Era uma mulher fina, uma verdadeira dama.
Não suba nessa árvore. Você pode cair do galho.
Era uma vítima do imperialismo. O latifúndio o sugava, roubava-lhe tudo que tinha.
Obs.: não confundir a reiteração, de grande valor estilístico, com a iteração, que é a simples repetição de uma palavra ou sua repetição por meio de um pronome-cópia, geralmente sem qualquer valor estilístico.
*
Gradação
Muitas vezes, a reiteração se ordena numa escala de grandeza ou de intensidade, constituindo uma gradação, que pode ser ascendente (do menos para o mais) ou descendente (do mais para o menos).
Estava pobre, quebrado, miserável.
A mulher, linda na obscuridade, revelou-se bonitinha, apenas simpática na claridade.
Casa, cidade, nação (Ferreira Gullar)
*
Pleonasmo
Consiste na repetição desnecessária, por meio de um sinônimo ou expressão sinônima, de uma idéia já expressa de maneira completa.
Palavras de baixo calão.
Este filme é baseado em fatos reais.
Houve divergências de opiniões e controvérsias.
*
Tautologia
É um tipo de pleonasmo exagerado, extremamente óbvio, que chega a causar espanto em quem escuta. Ao contrário do pleonasmo puro e simples, a tautologia pode ter grande valor estilístico, na medida em que opõe o que é ao que deveria ou poderia ser.
Exemplos:
Os mortos não estão vivos.
A Lapa vai voltar a ser a Lapa.
A conclusão deve concluir.
*
Prosopopéia
Quando um ser inanimado é representado como um animal ou quando um ser inanimado ou um animal é representado como um ser humano. No primeiro caso, a prosopopéia é chamada de animismo (exemplos 101 e 102) e no segundo caso, de personificação ou antropomorfização exemplos 103 e 104).
O vento rugia.
Meu cachorro me sorriu latindo.
O Lobo Mau e os Três Porquinhos.
*
Animalização ou zoomorfismo
Quando um ser humano é descrito como se assemelhando a um animal, pelas suas características, funções, aparência física, etc. Muito usado na ficção mais moderna.
Um homem vai devagar
Um cachorro vai devagar
Um burro vai devagar (Drummond)
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. (. . .) via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. (Aluíso Azevedo)
*
Alegoria
Consiste na representação de um conceito abstrato como um ser concreto e animado, uma imagem de grande valor pictórico, geralmente humana.
uma caveira com uma foice — alegoria da morte
uma mulher vendada com uma espada numa mão e uma balança na outra — alegoria da justiça
Papai Noel — alegoria do Natal
*
Sinestesia
Consiste na associação de palavras referentes a dois sentidos distintos: audição e visão, visão e tato, tato e paladar, paladar e olfato, etc.
Sentiu um toque doce.
Era uma visão amarga.
Ele tinha uma voz sombria.
*
Eufemismo
Consiste na substituição de um termo desagradável ou inaceitável por um termo mais agradável ou aceitável.
Ele não está mais entre nós. (= morreu)
Já era um senhor. (= velho)
Era pouco chegado a higiene. (= sujo)
*
Disfemismo
Ao contrário do eufemismo, consiste na intensificação do caráter desagradável ou pejorativo de um expressão, substituindo-a por outra mais ofensiva ou humilhante.
rolha-de-poço (= pessoa gorda)
pintor-de-rodapé (= pessoa baixa)
*
Hipérbole
Consiste no exagero ao se afirmar alguma coisa, com intuito emocional ou de ênfase.
Subi mais de mil e oitocentas colinas.
Chorar um rio de lágrimas.
*
Hipálage
Recurso sintático-semântico que consiste em atribuir a um ser ou coisa uma ação ou qualidade que pertence a outro ser ou outra coisa presente ou subentendido no texto.
a buzina impaciente do carro (o motorista é que é impaciente, não o carro ou a buzina)
as vizinhas das janelas fofoqueiras (são as vizinhas que são fofoqueiras, não as janelas)
o vôo negro dos urubus (são os urubus que são negros, não seu vôo)
******************
FIGURAS VARIACIONAIS
Eruditismo
Consiste no uso de palavras eruditas, de conhecimento restrito, para despertar a atenção do autor ou para criar um efeito de intelectualidade, erudição, pedantismo.
Isto é despiciendo. (= desprezível)
Entre o Frango e a Fome,
Há o cristal infrangível da Lei (= inquebrável)
tálamo (= leito nupcial)
imarcescíveis (= que não murcham)
*
Neologismo
Consiste no uso de um termo inventado para criar um efeito estilístico (emotivo, satírico, crítico, etc.) ou por não haver ainda uma palavra que represente nossa idéia.
organizações pilantrópicas (Betinho)
A constituição é imexível.
vervudo (que tem verve)
*
Estrangeirismo
A utilização de um termo estrangeiro tem três funções importantíssimas: em primeiro lugar, ele constitui a maneira mais fácil de despertar a atenção do leitor; em segundo lugar, ele evoca uma série de conceitos associados ao país ou cultura ao qual o termo pertence; em terceiro lugar, ele serve para expressar nuances de significado inexistentes na língua original.
Mon bien aimé, Raymond. (Aluísio Azevedo)
Ele tem élan. (= competência associada a elegância, saber fazer bem e com graça)
É preciso um know-how que nós não temos.
*
Plebeísmo
Uso de palavras condizentes com as camadas menos cultas da sociedade: gírias, palavras de caráter geral, frases vazias ou de pouco brilho etc.
“Cada um com seu cada um!”
“O amor é lindo, o que estraga é a falsidade.”
Vou “dar no pé”, senão “sobra” para mim.
*
Vulgarismo
Abrangeria apenas os palavrões e as palavras decididamente ofensivas e grosseiras. Pode ser usado estilisticamente, para evidenciar o tipo de relações numa determinada comunidade.
Maria Carne-Mole (Aluísio Azevedo)
Vá te catar!
*
Arcaísmo
Uso de palavras desusadas para criar um clima passadista, histórico num determinado texto. Atualmente, a maioria dos teóricos da literatura considera-o um vício.
boticário (= farmacêutico)
Vosmicê (= você)
*
Regionalismo
Uso de palavras dialetais para dar uma cor local, um ambiente regional ao texto.
A usina está de fogo-morto. (= parada)
Vadinho, este é um cara porreta. (= bacana)
********************
Figuras de linguagem morfossintáticas
Anominação
Consiste em empregar ou criar várias palavras com um mesmo radical.
)chuva, chuvosa, chuventa, chuvadeira, pluvimedonha.
E canários cantando e beija-flores beijando flores e camarões camaronando e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde pequeninando e não mordendo. (Monteiro Lobato)
*
Elipse
Consiste na supressão de parte da frase; usada por bons autores, intensifica e valoriza a porção restante do discurso.
Ontem você estava tão linda
Que o meu corpo chegou
Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
E o lance a outro; de um outro galo
Que apanhe o grito que um galo antes
*
Zeugma
Consiste na supressão do verbo; é uma característica compartilhada pela estilística literária e pela estilística da fala, onde ocorre freqüentemente.
Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo; Bernardes para a cela, para si, para o seu coração.
*
Anáfora
Consiste na repetição de palavra no início de frases (ou versos) seguidas ou muito próximas.
Você – manhã, um sonho meu
Você – que cedo entardeceu
Você – de quem a vida eu sou
Pensem nas crianças mudas telepáticas
Pensem nas meninas cegas inexatas
Pensem nas mulheres rotas alteradas
*
Epístrofe
Consiste na repetição de palavra no fim de frases (ou versos) seguidas ou muito próximas.
Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia /
– Assim! de um sol assim!"
*
Epanadiplose ou anadiplose
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão no fim de uma frase (ou verso) e no começo de outra.
Só não roeu o imortal soluço que rebentava,
Que rebentava daquelas páginas
Tu choraste em presença da morte
Em presença da morte choraste
*
Quiasmo
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão no início de uma frase (ou verso) e no fim da seguinte, ao mesmo tempo em que se repete a palavra ou expressão do término de uma frase (ou verso) no começo da seguinte.
No meio do caminho havia uma pedra
Havia uma pedra no meio do caminho
*****************
FIGURAS DE LINGUAGEM FÔNICAS
Rima e Homeoteleuto
Consistem na identidade de som na terminação de duas ou mais palavras; chama-se rima quando ocorre na poesia e homeoteleuto quando ocorre na prosa. O homeoteleuto é muito comum nos ditados populares.
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...
Mais vale uem Deus ajuda, do que quem cedo madruga
*
Aliteração
Consiste na repetição de sons consonantais.
Vozes veladas, veludosas vozes
Volúpia de violões, vozes veladas
*
Assonância
Consiste na repetição de vogais.
São prantos negros de fumas
Caladas, mudas, soturnas.
Tíbios flautins finíssimos gritavam.
*
Homônimos e Expressões Homófonas
Consiste no uso de palavras ou expressões que soam de maneira idêntica, mas têm significados distintos.
Sei o que dou e o que tomo,
Sei o que como, e como.
O rio é o mesmo rio, mas não é o mesmo rio.
*
Parônimos
Consiste no uso de palavras que soam de maneira semelhante.
O poema é dúbia forma de enlace,
substitui o pênis pelo lápis
— e é lapso.
Me dê paciência para que eu não caia
Para que eu não pare nesta existência
Tão mal cumprida tão mais comprida
*
Onomatopéia
Consiste na imitação dos sons da natureza.
Cocoró-corococó, cocoró-corococó,
O galo tem saudade da galinha carijó
A menina não fazia outra coisa senão chupar jabuticabas...Escolhia as mais bonitas, punhas entre os dentes e tloque. E depois do tloque, uma engolidinha do caldo e plufe! caroço fora. E tloque, tloque, plufe, tloque, plufe, lá passava o dia inteiro na árvore. (Monteiro Lobato)
****************
FIGURAS DE LINGUAGEM E ENSINO
Durante muito tempo, centraram-se nos estudos de sintaxe, morfologia, fonética e variação lingüística e praticamente ignoraram a semântica e a estilística, com terríveis efeitos.
As regras gramaticais, bem como as quebras dessas regras e suas variações, estão sempre atreladas ao sentido do que se quer dizer e à impressão ou emoção que queremos exprimir ou provocar. Ignorar essa premissa no estudo da sintaxe, morfologia, fonética ou variação lingüística, é como edificar um monumento ignorando suas fundações e terreno.
Além disso, o estudo da linguagem desvinculado de seus aspectos semânticos e estilísticos torna-se, para usarmos uma figura de linguagem, um paradoxo, visto que estuda-se algo concreto (a língua) em termos puramente abstratos, sem considerar sua realidade objetiva (o texto).
Ressente-se desta postura tão equivocada quanto monótona desenvolvendo um desinteresse, quiçá uma aversão ao estudo, emprego e fruição da língua portuguesa, limitando-se ao nível mais primário e imediato da linguagem, e perdendo toda sua riqueza expressiva, semântica e estilística.
Por que não dar aos nossos estudantes o mesmo enlevo, a mesma profundidade, o mesmo arrebatamento, que nos envolve ao ler e entender José de Alencar, Aluísio Azevedo, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, e tantos outros, mostrando-lhes a tessitura e o esplendor de suas metáforas, antíteses e prosopopéias, de suas aliterações e assonâncias, de suas anáforas e quiasmos?
Nossos estudantes deleitar-se-ão, com a leitura e sozinhos, independentes e confiantes eles lograrão alcançar o domínio e perícia que tanto lhes falta no manejo da língua portuguesa.
Análise do poema "Canção Excêntrica", de "Cecília Meireles."
A teoria da iconicidade, associada à estilística, permite-nos investigar os recursos impressivos e expressivos manifestos na representação sígnica de nossos pensamentos, sentimentos, idéias, etc. Tal associação parece-nos facilitar a compreensão de textos em geral.
O conhecimento das estruturas linguísticas, leva você a compreender a importância da Gramática na compreensão de textos.
O signo pode ser definido como o representante do objeto para um intérprete, produzindo na mente desse intérprete um outro signo que traduz o significado do primeiro. Esse processo relacional que se cria na mente do intérprete é denominado interpretante. O significado de um signo é outro signo:
? pode ser uma imagem mental,
?uma ação,
? um sentimento.
Só se conseguirá interpretar o mundo que o cerca porque faz sua representação e interpreta essa representação a partir de outra representação.
As relações entre o signo e o objeto apreendido, é composta de três constituintes: ícone, índice e símbolo.
O ícone é o elemento que estabelece a similaridade entre o signo e o objeto apreendido.
São exemplos de ícones os protótipos, a pintura, os diagramas, as fórmulas.
É através da estrutura icônica que o texto se transpõe para a consciência do leitor. Os ícones projetam estratégias para a possível compreensão do texto.
O índice é o tipo sígnico que estabelece relações de contiguidade entre o representante, o objeto, como os pronomes demonstrativos, que se relacionam aos substantivos. Constroem relações de encadeamento; um tipo de nexo estruturador.
O símbolo brota da relação arbitrária entre o signo e o objeto, dependendo, pois, das convenções criadas, como as palavras, as regras, as leis, os significados em geral.
Vejamos o texto de Cecília Meireles:
Canção Excêntrica
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
? saudosa do que não faço,
? do que faço, arrependida.
A seleção vocabular feita por Cecília Meireles para a elaboração do poema Canção Excêntrica, leva à produção de imagens na mente do leitor. As palavras que pertencem ao campo semântico do desenho geométrico sugerem o traçado, com instrumentos próprios, de uma figura. A “visualização” que fazemos com a leitura da poesia pertence à primeira categoria de captação do objeto.
No que diz respeito à categoria que trata das relações entre signo e objeto, temos nesse estágio da leitura o ícone, ou seja, as palavras que estimulam o traçado (na mente do leitor) da figura do objeto focalizado pelo texto. As metáforas são as responsáveis pela formação dessas imagens. Podemos depreender, por exemplo, a partir da construção desenho da vida, um modelo de existência idealizado pelo eu-lírico, estado oposto à situação de desencontro em que se encontra.
Ainda que (se)* reconheça a fragilidade dos esquemas de ancoragem da significação textual e da subjetividade imanente à produção mesma dos textos, tem sido possível construir estratégias diagramático-sintagmáticas de leitura a partir do levantamento do diálogo interno travado entre conectivos e circunstancializadores, por exemplo. (* inclusão nossa)
Os elementos que se seguem, que pertencem à isotopia do desenho, permitem-nos supor que o sujeito se empenha em buscar uma convivência afetiva satisfatória ou um equilíbrio emocional a partir de um projeto arquitetônico. São eles:
espaço
desenho da vida
medida
compasso
projeto-me
gero
se volto sobre o um passo
distância
traço
faço
Os verbos que ocorrem no poema reiteram a determinação do eu-lírico em alcançar seu objetivo: o desenho da vida.
A trajetória da busca é marcada por tentativas reveladoras de otimismo e resultados que mostram o insucesso dessas ações. Os verbos acompanhados dos sinais + (= otimismo) e – (= insucesso) ilustram o que dissemos.
Vejamos:
andar +
embaraçar ?
perder ?
pensar +
projetar-se +
gerar +
começar +
(não) animar-se ?
(não) fazer ?
fazer +
Esse levantamento mostra que, apesar de o sujeito admitir sua derrota diante da vida, as ações realizadas por ele que traduzem insucesso são quantitativamente inferiores às ações marcadas, de alguma forma, pela positividade. Logo, isso poderia nos levar a concluir que, embora não reconheça (? do que faço, arrependida) o eu-lírico não deixou de realizar algo.
As marcas de tempo dos verbos são de importância fundamental para a interpretação do texto. Notamos que todos os verbos do poema se apresentam no presente do indicativo.
Segundo a gramática, podemos citar a de Evanildo Bechara (1999), essa forma verbal refere-se a fatos reais que se passam na ocasião em que falamos. Baseados nisso, podemos dizer que o sujeito revela a sua realidade atual. Weinrich (Apud Koch:1996) acrescenta que esse tempo pertence ao mundo comentado, que se caracteriza por apresentar uma atitude tensa, num discurso dramático, pois os fatos narrados se tratam de acontecimentos que afetam o sujeito diretamente. O teórico prossegue afirmando que “comentar é falar comprometidamente” (Cf. Koch, 1996: 38); ele diz ainda que o presente constitui o tempo zero do mundo comentado, ou seja, sem perspectivas. Portanto, de acordo com as idéias de Weinrich, e está perfeitamente claro na poesia, Canção Excêntrica é mais um canto de lamento de uma realidade que não pode ser modificada; o sujeito apenas constata os fatos, não tendo perspectivas de mudança.
Embora algumas ações do sujeito revelem tentativas de ação otimistas, há elementos indiciais na poesia que conduzem o leitor para um desfecho negativo. O advérbio sempre, que aparece no verso 4: “e perco sempre a medida” se constitui em um índice de que a tarefa do eu-lírico não vai ter o resultado esperado.
O outro advérbio ? já ? que aparece no verso 15: “Já por exausta e descrida” é um índice de que o sujeito, vencido pelas adversidades, deu por finalizada sua busca.
É possível fazer a divisão da poesia em três partes:
• do verso 1 ao verso 4 – declaração da ação real positiva
• do verso 5 ao verso 10 – declaração de ação hipotética
• do verso 11 ao verso 18 – declaração da ação real com desfecho negativo
É oportuno, neste momento, distinguir as relações lógicas presentes no texto, tanto do ponto de vista lingüístico como do ponto de vista discursivo. Persuadir é convencer o outro, e, na estruturação do discurso usam-se relações lógicas, que podem aparecer de diferentes formas (explícita e implicitamente).
Tomando como ponto de partida o título da poesia, podemos dizer que este texto é eminentemente persuasivo. A autora, através de estratégias próprias do discurso argumentativo-persuasivo, procura justificar o porquê de a poesia intitular-se Canção Excêntrica.
A noção de causalidade, que não se limita somente aos instrumentos próprios, está clara no desenvolvimento do texto.
A conjunção e, mesmo sendo um conector coordenativo, traduz uma noção de causalidade implícita; conotando a idéia de conseqüência:
“Em números me embaraço / e perco sempre a medida” (v.3-4); “projeto-me num abraço / e gero uma despedida” (v.7-8).
A conjunção se, que introduz os versos 5 e 9, encerram declarações hipotéticas que confirmam o eterno desencontro do sujeito — “se penso encontrar saída/.../projeto-me num abraço e gero uma despedida; se volto sobre meu passo,/´já distância perdida).
As proposições não são verdadeiras, porém, a idéia conseqüente será verdadeira se a antecedente o for, as ações, se realizadas, certamente resultarão em decepção.
No nível da expressividade, o sujeito mostra sua ex-centricidade através do quiasmo que aparece no fechamento da poesia : “? saudosa do que não faço, / ? do que faço, arrependida.” ( v.17-18).
Observa-se que os dois versos formam uma antítese que rompe com a lógica discursiva: saudosa? do que não faço; arrependida ? do que faço.
Ainda no nível da expressividade, vemos que aparecem as rimas em –ida e –aço. É possível estabelecer-se uma oposição entre elas de acordo com o sentido do texto:
IDA
vida
medida
saída
despedida
perdida
descrida
arrependida
AÇO
embaraço
compasso
abraço
passo
cansaço
espaço
traço
O Dicionário Aurélio (1986), registra como acepção para a palavra ida os termos partida , jornada da ida; para o verbo ir, entre os vários termos, há os sentidos: deslocar-se, andar, percorrer, seguir.
O vocábulo aço, dentre outras acepções é definido como: aquilo que é duro, resistente, rígido. Associando esses sentidos ao texto estudado, poderíamos abstrair que o sujeito se empenha em uma ida para o desenho da vida, porém suas tentativas são frágeis diante da dureza, da rigidez dos obstáculos, tornando duro, resistente ao sentimento seu próprio coração:
“Meu coração, coisa de aço,” (v.11).
A vogal /a/ se associa a algo grande, enquanto que a vogal /i/ está ligada à noção de pequenez, estreitamento (cf. macro x micro).
A noção de grandeza pode ser associada também ao vocábulo ando que inicia o poema:
“Ando à procura de espaço”. Deduz-se daí que, inicialmente, o sujeito possuía força e determinação em seus propósitos, entretanto, diante das adversidades, esse estado de espírito apagou-se no coração do eu-lírico, que agora se mostra descrente, exausto e arrependido.
Inicialmente, o poema produz apenas um interpretante de primeiro nível, ligado ao plano sensorial, no caso de Canção Excêntrica, a sensação visual. A observação de todas as estratégias presentes no texto fará emergir o interpretante final, ou seja, o possível ou possíveis sentidos para o poema.
Obsevação:
Quiasmo
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão no início de uma frase (ou verso) e no fim da seguinte, ao mesmo tempo em que se repete a palavra ou expressão do término de uma frase (ou verso) no começo da seguinte.
Análise do poema "Canção Excêntrica", de "Cecília Meireles."
Análise do poema "Canção Excêntrica", de "Cecília Meireles."
Símile ou comparação
Consiste numa comparação explícita, com a presença do elemento comparativo: como, tal qual, igual a, feito, que nem (coloquial), etc., entre duas palavras ou expressões.
Ela é bela como uma flor.
Ele é esperto feito uma raposa.
Ele é magro que nem um caniço.
O menino manteve-se firme, tal qual uma rocha.
*
Metáfora
Consiste numa comparação implícita, numa relação de similaridade, entre duas palavras ou expressões.
Ela é uma flor.
Ele é uma raposa.
Somente a Ingratidão — essa pantera —
Foi tua companheira inseparável (Augusto dos Anjos)
*
Metonímia
Consiste numa comparação parcial implícita, numa relação de contigüidade ou aproximação, entre o significado de uma palavra ou expressão e uma parte do significado, ou um significado associado ao, de outra palavra ou expressão.
Pode compreender relações de parte-todo, características, localização, continente-conteúdo, causa-efeito, etc.
Beber um Porto.
Ser vítima do latifúndio.
Deixar de ser um João.
Sua beleza é um avião.
*
Sinédoque
É um tipo de metonímia centrado na idéia de inclusão, normalmente baseado na relação parte-todo.
Exemplos:
Conseguir um teto e um pouco de pão.
Lutar pela criança e pelo velho.
Tomar uma Brahma.
Comprar uma gilete.
*
Catacrese
Consiste no emprego de um termo figurado por falta de outro termo mais apropriado. É um tipo de metonímia ou metáfora que, de tão usada, já deixou de ser considerada como tal pelos falantes.
A perna da mesa
O dente de alho.
O pé de feijão.
Perífrase
Consiste na substituição de um termo por uma expressão que o descreva.
A capital do Brasil.
A cidade maravilhosa.
Quando a indesejada das gentes (= morte) vier.
*
Antonomásia
Um tipo especial de perífrase que consiste na substituição de um nome próprio por um nome comum, ou vice-versa, ou ainda pela denominação de alguém por meio de suas características principais ou por fatos marcantes de sua vida.
O Poeta dos Escravos.
A Redentora.
Ele é um D. Juan.
*
Antítese
Quando uma idéia se opõe a outra, sem impedi-la nem torná-la absurda. As idéias em si podem ser diametralmente opostas e até excludentes.
Estava mais morto do que vivo.
De repente, do riso fez-se o pranto.
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
*
Paradoxo
É a antítese extremada, em que duas idéias que se excluem são apresentadas como ocorrendo ao mesmo tempo e no mesmo contexto, o que gera uma situação impossível, uma idéia absurda.
Amor é ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
Quer abrir a porta
Não existe porta.
*
Litotes
Consiste na afirmação de alguma coisa pela negação do seu contrário.
Não é feia a pequerrucha. (= é bonita)
Ele não era nada bobo. (= era esperto)
Ela não era nenhuma miss Brasil. (= era feia)
*
Antífrase
Consiste em se afirmar exatamente o contrário do que se quer dizer; geralmente é um tipo de ironia.
Chegou cedo, heim! (para alguém atrasado)
Muito bonito, seu Fulano! (quando alguém acabou de cometer um erro ou disparate)
Coisinha linda! (para uma pessoa muito feia)
*
Ironia
Figura de linguagem na qual aquilo que se diz não corresponde exatamente ao que se quer dizer, com intuito jocoso, cômico ou crítico.
Oba, jiló de novo!
Como escritor, ele é um ótimo guitarrista!
— Posso tentar o pneumotórax, doutor?
— Não, só resta cantar um tango argentino!
*
Sarcasmo
É o nome que se dá à ironia usada com intuito ofensivo, agressivo ou malévolo.
Tá linda de vermelho, parecendo um caqui.
Nossa, como ela é inteligente. Sabe até ler!
Ele tem dentes lindos, todos três!
*
Alusão ou citação
Quando um autor se vale de trechos, imagens ou personagens de um outro autor para a confecção de sua obra.
E quando escutar um samba-canção
Assim como Eu preciso aprender a ser só
Reagir e ouvir o coração responder:
Eu preciso aprender a só ser
Elementar, meu caro aluno!
*
Clichê ou frase-feita
Consiste no uso de uma expressão popular de uso geral dentro da obra de um autor.
Quem tudo quer, tudo perde.
Pouco com Deus é muito.
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
*
Paródia
Consiste na modificação de trecho ou obra de um outro autor, ou ainda de um clichê, com intuito jocoso, cômico ou crítico.
Qual a diferença entre o charme e o “funk”?
Um é de analfabeto, outro de ignorante.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que a água desiste.
Ó pátria amada, em dólares atada,
Salve-se, salve-se.
*
Ambigüidade
Figura de linguagem em que um determinado trecho pode ser interpretado de duas ou mais maneiras diferentes, por efeito da anfibologia ou do uso de polissemias ou homônimos. A ambigüidade muitas vezes é um vício de linguagem, mas também pode ser um valioso recurso estilístico, na medida em que ela abre o texto para duas ou mais interpretações.
Márcio foi à casa de Pedro e beijou sua mulher.
A mãe da aniversariante deu bolo.
Sou a favor do Vale do Paraíba. Afinal, já temos o vale-transporte, o vale-idoso, por que não favorecer nossos irmãos do Nordeste? (resposta do Vestibular)
Eu sou, eu fui, eu vou! (Raul Seixas)
*
Reiteração
Quando se repete uma idéia, quer por meio de um sinônimo ou expressão sinônima, quer por meio de uma palavra cujo significado esteja de alguma forma associado ao significado da primeira palavra ou expressão.
Era uma mulher fina, uma verdadeira dama.
Não suba nessa árvore. Você pode cair do galho.
Era uma vítima do imperialismo. O latifúndio o sugava, roubava-lhe tudo que tinha.
Obs.: não confundir a reiteração, de grande valor estilístico, com a iteração, que é a simples repetição de uma palavra ou sua repetição por meio de um pronome-cópia, geralmente sem qualquer valor estilístico.
*
Gradação
Muitas vezes, a reiteração se ordena numa escala de grandeza ou de intensidade, constituindo uma gradação, que pode ser ascendente (do menos para o mais) ou descendente (do mais para o menos).
Estava pobre, quebrado, miserável.
A mulher, linda na obscuridade, revelou-se bonitinha, apenas simpática na claridade.
Casa, cidade, nação (Ferreira Gullar)
*
Pleonasmo
Consiste na repetição desnecessária, por meio de um sinônimo ou expressão sinônima, de uma idéia já expressa de maneira completa.
Palavras de baixo calão.
Este filme é baseado em fatos reais.
Houve divergências de opiniões e controvérsias.
*
Tautologia
É um tipo de pleonasmo exagerado, extremamente óbvio, que chega a causar espanto em quem escuta. Ao contrário do pleonasmo puro e simples, a tautologia pode ter grande valor estilístico, na medida em que opõe o que é ao que deveria ou poderia ser.
Exemplos:
Os mortos não estão vivos.
A Lapa vai voltar a ser a Lapa.
A conclusão deve concluir.
*
Prosopopéia
Quando um ser inanimado é representado como um animal ou quando um ser inanimado ou um animal é representado como um ser humano. No primeiro caso, a prosopopéia é chamada de animismo (exemplos 101 e 102) e no segundo caso, de personificação ou antropomorfização exemplos 103 e 104).
O vento rugia.
Meu cachorro me sorriu latindo.
O Lobo Mau e os Três Porquinhos.
*
Animalização ou zoomorfismo
Quando um ser humano é descrito como se assemelhando a um animal, pelas suas características, funções, aparência física, etc. Muito usado na ficção mais moderna.
Um homem vai devagar
Um cachorro vai devagar
Um burro vai devagar (Drummond)
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. (. . .) via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. (Aluíso Azevedo)
*
Alegoria
Consiste na representação de um conceito abstrato como um ser concreto e animado, uma imagem de grande valor pictórico, geralmente humana.
uma caveira com uma foice — alegoria da morte
uma mulher vendada com uma espada numa mão e uma balança na outra — alegoria da justiça
Papai Noel — alegoria do Natal
*
Sinestesia
Consiste na associação de palavras referentes a dois sentidos distintos: audição e visão, visão e tato, tato e paladar, paladar e olfato, etc.
Sentiu um toque doce.
Era uma visão amarga.
Ele tinha uma voz sombria.
*
Eufemismo
Consiste na substituição de um termo desagradável ou inaceitável por um termo mais agradável ou aceitável.
Ele não está mais entre nós. (= morreu)
Já era um senhor. (= velho)
Era pouco chegado a higiene. (= sujo)
*
Disfemismo
Ao contrário do eufemismo, consiste na intensificação do caráter desagradável ou pejorativo de um expressão, substituindo-a por outra mais ofensiva ou humilhante.
rolha-de-poço (= pessoa gorda)
pintor-de-rodapé (= pessoa baixa)
*
Hipérbole
Consiste no exagero ao se afirmar alguma coisa, com intuito emocional ou de ênfase.
Subi mais de mil e oitocentas colinas.
Chorar um rio de lágrimas.
*
Hipálage
Recurso sintático-semântico que consiste em atribuir a um ser ou coisa uma ação ou qualidade que pertence a outro ser ou outra coisa presente ou subentendido no texto.
a buzina impaciente do carro (o motorista é que é impaciente, não o carro ou a buzina)
as vizinhas das janelas fofoqueiras (são as vizinhas que são fofoqueiras, não as janelas)
o vôo negro dos urubus (são os urubus que são negros, não seu vôo)
******************
FIGURAS VARIACIONAIS
Eruditismo
Consiste no uso de palavras eruditas, de conhecimento restrito, para despertar a atenção do autor ou para criar um efeito de intelectualidade, erudição, pedantismo.
Isto é despiciendo. (= desprezível)
Entre o Frango e a Fome,
Há o cristal infrangível da Lei (= inquebrável)
tálamo (= leito nupcial)
imarcescíveis (= que não murcham)
*
Neologismo
Consiste no uso de um termo inventado para criar um efeito estilístico (emotivo, satírico, crítico, etc.) ou por não haver ainda uma palavra que represente nossa idéia.
organizações pilantrópicas (Betinho)
A constituição é imexível.
vervudo (que tem verve)
*
Estrangeirismo
A utilização de um termo estrangeiro tem três funções importantíssimas: em primeiro lugar, ele constitui a maneira mais fácil de despertar a atenção do leitor; em segundo lugar, ele evoca uma série de conceitos associados ao país ou cultura ao qual o termo pertence; em terceiro lugar, ele serve para expressar nuances de significado inexistentes na língua original.
Mon bien aimé, Raymond. (Aluísio Azevedo)
Ele tem élan. (= competência associada a elegância, saber fazer bem e com graça)
É preciso um know-how que nós não temos.
*
Plebeísmo
Uso de palavras condizentes com as camadas menos cultas da sociedade: gírias, palavras de caráter geral, frases vazias ou de pouco brilho etc.
“Cada um com seu cada um!”
“O amor é lindo, o que estraga é a falsidade.”
Vou “dar no pé”, senão “sobra” para mim.
*
Vulgarismo
Abrangeria apenas os palavrões e as palavras decididamente ofensivas e grosseiras. Pode ser usado estilisticamente, para evidenciar o tipo de relações numa determinada comunidade.
Maria Carne-Mole (Aluísio Azevedo)
Vá te catar!
*
Arcaísmo
Uso de palavras desusadas para criar um clima passadista, histórico num determinado texto. Atualmente, a maioria dos teóricos da literatura considera-o um vício.
boticário (= farmacêutico)
Vosmicê (= você)
*
Regionalismo
Uso de palavras dialetais para dar uma cor local, um ambiente regional ao texto.
A usina está de fogo-morto. (= parada)
Vadinho, este é um cara porreta. (= bacana)
********************
Figuras de linguagem morfossintáticas
Anominação
Consiste em empregar ou criar várias palavras com um mesmo radical.
)chuva, chuvosa, chuventa, chuvadeira, pluvimedonha.
E canários cantando e beija-flores beijando flores e camarões camaronando e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde pequeninando e não mordendo. (Monteiro Lobato)
*
Elipse
Consiste na supressão de parte da frase; usada por bons autores, intensifica e valoriza a porção restante do discurso.
Ontem você estava tão linda
Que o meu corpo chegou
Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
E o lance a outro; de um outro galo
Que apanhe o grito que um galo antes
*
Zeugma
Consiste na supressão do verbo; é uma característica compartilhada pela estilística literária e pela estilística da fala, onde ocorre freqüentemente.
Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo; Bernardes para a cela, para si, para o seu coração.
*
Anáfora
Consiste na repetição de palavra no início de frases (ou versos) seguidas ou muito próximas.
Você – manhã, um sonho meu
Você – que cedo entardeceu
Você – de quem a vida eu sou
Pensem nas crianças mudas telepáticas
Pensem nas meninas cegas inexatas
Pensem nas mulheres rotas alteradas
*
Epístrofe
Consiste na repetição de palavra no fim de frases (ou versos) seguidas ou muito próximas.
Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia /
– Assim! de um sol assim!"
*
Epanadiplose ou anadiplose
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão no fim de uma frase (ou verso) e no começo de outra.
Só não roeu o imortal soluço que rebentava,
Que rebentava daquelas páginas
Tu choraste em presença da morte
Em presença da morte choraste
*
Quiasmo
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão no início de uma frase (ou verso) e no fim da seguinte, ao mesmo tempo em que se repete a palavra ou expressão do término de uma frase (ou verso) no começo da seguinte.
No meio do caminho havia uma pedra
Havia uma pedra no meio do caminho
*****************
FIGURAS DE LINGUAGEM FÔNICAS
Rima e Homeoteleuto
Consistem na identidade de som na terminação de duas ou mais palavras; chama-se rima quando ocorre na poesia e homeoteleuto quando ocorre na prosa. O homeoteleuto é muito comum nos ditados populares.
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...
Mais vale uem Deus ajuda, do que quem cedo madruga
*
Aliteração
Consiste na repetição de sons consonantais.
Vozes veladas, veludosas vozes
Volúpia de violões, vozes veladas
*
Assonância
Consiste na repetição de vogais.
São prantos negros de fumas
Caladas, mudas, soturnas.
Tíbios flautins finíssimos gritavam.
*
Homônimos e Expressões Homófonas
Consiste no uso de palavras ou expressões que soam de maneira idêntica, mas têm significados distintos.
Sei o que dou e o que tomo,
Sei o que como, e como.
O rio é o mesmo rio, mas não é o mesmo rio.
*
Parônimos
Consiste no uso de palavras que soam de maneira semelhante.
O poema é dúbia forma de enlace,
substitui o pênis pelo lápis
— e é lapso.
Me dê paciência para que eu não caia
Para que eu não pare nesta existência
Tão mal cumprida tão mais comprida
*
Onomatopéia
Consiste na imitação dos sons da natureza.
Cocoró-corococó, cocoró-corococó,
O galo tem saudade da galinha carijó
A menina não fazia outra coisa senão chupar jabuticabas...Escolhia as mais bonitas, punhas entre os dentes e tloque. E depois do tloque, uma engolidinha do caldo e plufe! caroço fora. E tloque, tloque, plufe, tloque, plufe, lá passava o dia inteiro na árvore. (Monteiro Lobato)
****************
FIGURAS DE LINGUAGEM E ENSINO
Durante muito tempo, centraram-se nos estudos de sintaxe, morfologia, fonética e variação lingüística e praticamente ignoraram a semântica e a estilística, com terríveis efeitos.
As regras gramaticais, bem como as quebras dessas regras e suas variações, estão sempre atreladas ao sentido do que se quer dizer e à impressão ou emoção que queremos exprimir ou provocar. Ignorar essa premissa no estudo da sintaxe, morfologia, fonética ou variação lingüística, é como edificar um monumento ignorando suas fundações e terreno.
Além disso, o estudo da linguagem desvinculado de seus aspectos semânticos e estilísticos torna-se, para usarmos uma figura de linguagem, um paradoxo, visto que estuda-se algo concreto (a língua) em termos puramente abstratos, sem considerar sua realidade objetiva (o texto).
Ressente-se desta postura tão equivocada quanto monótona desenvolvendo um desinteresse, quiçá uma aversão ao estudo, emprego e fruição da língua portuguesa, limitando-se ao nível mais primário e imediato da linguagem, e perdendo toda sua riqueza expressiva, semântica e estilística.
Por que não dar aos nossos estudantes o mesmo enlevo, a mesma profundidade, o mesmo arrebatamento, que nos envolve ao ler e entender José de Alencar, Aluísio Azevedo, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, e tantos outros, mostrando-lhes a tessitura e o esplendor de suas metáforas, antíteses e prosopopéias, de suas aliterações e assonâncias, de suas anáforas e quiasmos?
Nossos estudantes deleitar-se-ão, com a leitura e sozinhos, independentes e confiantes eles lograrão alcançar o domínio e perícia que tanto lhes falta no manejo da língua portuguesa.
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